Estudo revela como excesso de açúcar desequilibra a microbiota intestinal e prejudica proteção imunológica contra doenças metabólicas

Kawano Y, et al. 2022
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em colaboração com cientistas brasileiros, investigaram os efeitos de uma dieta rica em açúcar na microbiota intestinal e no sistema imunológico de ratos.
No artigo intitulado “Microbiota imbalance induced by dietary sugar disrupts immune-mediated protection from metabolic syndrome”, que foi publicado na revista Cell em agosto de 2022, a equipe de pesquisadores da Universidade da Califórnia, junto com os cientistas brasileiros Dr. Daniel Mucida, chefe do laboratório de imunologia de mucosas na Universidade Rockefeller em Nova York, e Dr. Leandro Pires Araújo, pós-doc na Universidade de Columbia, descobriram que uma dieta rica em açúcar causa desequilíbrio na microbiota intestinal de camundongos, levando a uma redução na diferenciação de células imunológicas que auxiliam na regulação da absorção de lipídios pelo epitélio intestinal.
Dieta, microbiota e imunidade
O nosso sistema digestivo é o lar de um ecossistema diverso de microrganismos que exercem funções nada óbvias, desde a digestão de nutrientes que não conseguimos digerir por conta própria, até evitar que bactérias patogênicas se estabeleçam no intestino e causem doenças. Outro ponto importante é a regulação imunológica que essa microbiota proporciona, por exemplo, as bactérias benéficas da microbiota intestinal ajudam a produzir ácidos graxos de cadeia curta, que podem reduzir a inflamação e fortalecer a barreira intestinal. Por outro lado, uma disbiose intestinal pode levar a uma resposta inflamatória crônica e contribuir para o desenvolvimento de doenças autoimunes.
Essa microbiota pode ser afetada por diferentes fatores, e um dos mais relevantes é o tipo de dieta que o indivíduo consome. Em regra geral, uma dieta rica em fibras e alimentos fermentados pode ajudar a promover o crescimento de bactérias benéficas na microbiota intestinal. Em contra partida, uma dieta pobre em fibras e rica em açúcar e gordura pode promover o crescimento de bactérias patogênicas e contribuir para a disbiose intestinal. O problema é que isso nem sempre acontece, e os mecanismos que ocorrem por trás dessas alterações ainda não são bem compreendidos pela comunidade científica.
Avanços do estudo
O estudo aponta que níveis elevados de açúcar na dieta de camundongos perturbam o balanço da microbiota intestinal, fazendo com que os linfócitos Th17, que são células imunológicas essenciais para a manutenção da saúde intestinal, sejam substituídas por linfócitos Th1 e células linfoides inatas tipo 3 (ILC 3). Essa alteração no perfil de células imunológicas acaba gerando um ambiente pró-inflamatório no intestino e aumentando a absorção de lipídios pelo epitélio intestinal, o que resulta no desenvolvimento da síndrome metabólica nos camundongos.
A síndrome metabólica é um conjunto de condições que aumentam o risco de doenças cardíacas, derrame e diabetes, e é caracterizada por pressão alta, açúcar elevado no sangue, excesso de gordura corporal ao redor da cintura e níveis anormais de colesterol. O estudo sugere que a perturbação da microbiota devido ao açúcar na dieta resulta na perda da proteção mediada pelo sistema imunológico contra a síndrome metabólica, o que pode ser um contribuinte significativo para a crescente prevalência de distúrbios metabólicos.
Um alerta sobre a alimentação saudável
Segundo os próprios autores: “Os resultados destacam a importância da dieta na manutenção de uma microbiota intestinal saudável e um sistema imunológico saudável. O consumo excessivo de açúcar pode levar a uma mudança prejudicial na flora intestinal, o que pode ter sérias implicações para a saúde metabólica.”
Os resultados desses estudos enfatizam a importância de uma dieta equilibrada e variada, rica em fibras, frutas e vegetais, para a manutenção de uma microbiota intestinal saudável e para a prevenção de doenças metabólicas. A redução do consumo de açúcar é uma medida importante que pode ajudar a melhorar a saúde intestinal e imunológica, além de reduzir o risco de doenças metabólicas.
À medida que a prevalência de distúrbios metabólicos e doenças inflamatórias intestinais continuam a aumentar, é crucial que os indivíduos prestem atenção em suas escolhas alimentares e de estilo de vida para prevenir e gerenciar essas condições.
Por: Lucas Soveral, doutorando na UFSC e Leo Gomes, aluno da Medicina (USFC)